mapereira Escreveu:Posso pensar então:
Com trompa em Si bemol sem chanches de ter um som escuro? Mesmo com o recurso da mão na campãnula, por mais que eu force abafamento, mesmo assim não terei som escuro? Com a campãnula para baixo produzo um som mais grave, não poderia também um mais escuro?
Marco, permita-me opinar sobre esta questão da trompa Sib.
Li você e o hugoleo falando sobre som escuro na trompa Sib neste
post, no qual vcs reclamam dificuldade em obter som escuro nesta tonalidade.
Toco majoritariamente em Sib (75% do tempo), usando Fá para o resto, apenas como opção. Discordo que em Sib não se consegue som escuro.
Explico: na verdade, me sinto muito mais livre, confiante e dominante para flexibilizar a embocadura e as notas tocando em Sib, seja para escurecer meu som ou dar timbres diferentes do que em Fá.
Em Fá, sinto que a exigência é bem maior, pois o tubo mais comprido impõe mais resistência ao ar, o que me dá nítida sensação de abafamento, amortecimento, e não de som mais escuro. Creio que haja uma tendência a conceituar som escuro com som mais "grave" tocando as mesmas notas, o que discordo também.
Para mim, som escuro é aquele som projetado, que toma conta do ambiente, poderoso, melodioso, o que pode ser conseguido em quase toda a gama de notas da trompa, diferente do som grave, solene, "meio trombone, meio trompa".
Som escuro também depende em boa parte do bocal: som escuro requer bocal com copo médio a profundo (preferentemente profundo), em formato de U (ou mescla de U e V, como os Marcinkiewicz), e principalmente, furo maior que 4,6 mm (preferentemente, maior que 5 mm) com acabamento sinfônico. Furos menores tendem a abrilhantar o som, não tem como negar isso.
Som brilhante ou metálico é aquele que imita em partes o trompete. Numa comparação, som brilhante é do trompete, enquanto escuro é do flugelhorn; som brilhante é do oboé, enquanto escuro é do corne-inglês; brilhante do violino, escuro do cello.
Resumindo: o som escuro depende mais do trompista do que da tonalidade da trompa, com exceção das tonalidade de trompas em Fá-agudo e Mib-agudo.
Citarei 3 fatores: trompista (embocadura, flexibilidade, ataque, coluna de ar, distribuição do ar, projeção do som), bocal e ambiente físico.
Noto que alguns trompistas tentam a todo custo obter som escuro nos lábios, modificando-os de posição, tentando jogar todo o ar possível no primeiro contato com o bocal. Creio ser um equívoco grande: o primeiro contato com o bocal deve ser leve, integrado e acoplativo, ou seja, o bocal é o elo de ligação entre trompista e trompa em que os dois se tornam um só.
O som e o timbre se formam dentro do copo do bocal, ou seja, "naquela sala onde há o encontro entre trompista e trompa", em que o intérprete trabalha seus lábios e o ar de forma que ele seja levado pelos tubos de maneira projetada, ampla, com energia total, e é onde o trompista inteligentemente joga, experimenta, flexibiliza o seu som, e o faz percorrer pelos tubos até chegar na campana, e ali o toque final com a mão na campana, dá o último acabamento ao som e ao timbre.
Mas, praticamente tudo se concentra no aproveitamento do ar no copo do bocal, é ali que se tem a chance de moldar seu som e nunca nos lábios pura e simplesmente. Os lábios somente são as ferramentas que acoplam na borda (anel) do bocal, mas é o ar que faz a diferença.
Seguem alguns hinos que tocamos recentemente num ensaio na Central de Frutal, que tem salão de 30m x 50m, e altura de 8m, aproximadamente.
Estavam dois violinos (um tocou apenas parte), um sax alto (contralto), dois sax barítonos (um tocou apenas em parte), uma acordion, e eu com a trompa (uma Holton H180, bocal standard chinês, com copo médio-profundo, furo extra grande)), mais algumas irmãs e irmãos cantando.
Antes de haver algumas críticas, explico que não são músicos profissionais de ofício, mas sim voluntários que aprendem até o nível intermediário na própria Congregação, e tocam gratuitamente, e também onde os instrutores musicais não recebem financeiramente nada para ensinar, nem para tocar, bem como os cantores e cantoras raramente têm alguma instrução musical. É tudo no amor de Deus para cumprir: "De graça recebei, de graça dai".
Observem a trompa, apesar de haver algumas vozes próximas, é perfeitamente identificável o som escuro da trompa, pois o ambiente era perfeito para a projeção e, claro, tentei ao máximo obter o som escuro.
Hinos 201 (solo contralto na trompa), 226 e 64
Hino 253 stacatto
Hino 233