Existe muita polémica em torno desses acessórios, bem como o uso de um lápis entre os lábios.
Como qualquer tipo de acessório, não se pode esquecer o factor comercial, pois é fácil, colocar vedetas a fazer apresentações. (um pouco como colocar um famoso jogador de futebol a dizer na televisão que usa gilette e organics). Não foram esses produtos que o fizeram famoso..
Recomendo cautela nestes acessórios pois se não forem usados de uma forma correcta poderão provocar resultados indesejáveis. Este tipo de acessórios poderão ser úteis para visualizar, diagnosticar, tirar conclusões ou não...
R: Prezado Matosinhos, postei sobre o acessório porque você mesmo posta sobre vários acessórios comerciais. E no mais, testei a forma de funcionamento e achei de fato muito apropriada a questão da mecânica utilizada, pois ao direcionar o ar como se estivesse a soprar retamente para dentro do bocal, já me deu instantaneamente melhor noção da embocadura. Pensei como a gente muitas vezes não presta atenção na embocadura e um simples ajuste melhora muita coisa.
Como se pode ver nos videos, o queixo sobe, fechando a embocadura, algo que não é, de todo, desejável.
R: Não disse e nem quis dizer que tais acessórios são a solução para problemas de embocadura, mas que servem como parâmetro para melhorar a noção de boca-ar-bocal. "Um pedagogo disse que os lábios do trompetista devem ter a forma oval pequena" (VECCHIA, 2008, p. 44), ou seja, me parece que o acessório tem esta forma ovalada. Diga-se de passagem que o acessório serve para vários instrumentos, segundo o fabricante.
Prefiro a abordagem dos professor Will Sanders, que utiliza um lápis leve e pequeno, com a ideia de um bebé a mamar utilizando os Músculos Obiculares da boca. Desta forma o queixo permanece esticado e a embocadura não fecha totalmente.
R: De fato, bastante interessante esta abordagem do prof. Sanders, apesar que não vejo muita diferença entre um e outro, pois objetivo é direcionar o ar diretamente para o bocal. É mais uma técnica a ser tentada pelos trompistas e cada um saberá o que usar e o que o fará melhorar, e sempre contando com o acompanhamento de um professor, se possível.
Neste vídeo, ele dá mais algumas explicações:
Quanto à questão de soprar directamente para o orifício do bocal também é uma questão duvidosa.
Philip Farkas no seu livro (Philip Farkas, A Photographic Study of 40 Virtuoso Horn Players' Embouchures, (Bloomington, Indiana: Wind Music, Inc., 1970), 41 pp.) mostra como 40 instrumentistas profissionais em diversas posições da orquestra, usam diferentes ângulos para obter resultados de nível profissional e não necessariamente soprar para o orifício do bocal.
R: Permita-se discordar, mas o direcionamento do ar para o centro do bocal e para o leadpipe traz os melhores resultados, pois se trata de uma questão lógica, haja vista que o ar é aproveitado em sua plenitude, não havendo perdas nas paredes dos tubos do instrumento.
Inclusive num dos estudos postados hoje por você, Vecchia (2008) faz referência a isso:
1. "todo o esforço dos lábios deve ser feito em direção ao centro do bocal, tanto horizontalmente quanto verticalmente" (p. 42). Veja que ele fala em "esforço", não em "posicionamento", ou seja, não desmente Farkas, mas reforça que independentemente da posição preferida pelo trompista, o esforço deve ser ao centro.
2. "O maxilar inferior deve estar exatamente abaixo do superior, com os dentes incisivos (da frente) alinhados, fazendo com que o maxilar inferior se posicione para enviar a coluna de ar diretamente para o bocal, sem direcionar excessivamente
para cima nem para baixo." (p. 43) Neste ponto, assiste razão a você, quando diz que o acessório tende a fechar a embocadura, porém o acessório não é utilizado com o bocal, mas é posto entre os lábios para que o músico mentalmente imagine o entro do bocal após retirar o acessório. Contudo, Vechhia confirma que o ar deve ser direcionado diretamente para o bocal.
3. E mais: "O ar precisa se mover com velocidade dentro do instrumento, não somente do bocal." (p. 58). Se o ar é disperso pelo bocal, como poderá se mover com velocidade dentro do instrumento, certamente haverá 'turbulência do ar' e a perda de sonoridade e de aproveitamento de potência.
4. "Uma embocadura demasiadamente aberta é, raramente, melhor que uma embocadura demasiadamente fechada, isto é, quando permite que o ar se espalhe e o som perca o foco. O som produzido por uma embocadura muito aberta será leve e oco, sem centro ou ressonância; o resultado é uma sonoridade com ar." (p. 44). Apesar de estar um pouco confuso este trecho, o ar que se espalha faz o som perder foco e enfraquece a sonoridade.
4. "Muitos instrumentistas superam as irregularidades deslocando o bocal levemente para algum lado." (p. 53). Tem várias citações do tipo por Vecchia, mas somente em se tratando de alguma limitação ou problema físico do instrumentista.
Nada substitui o estudo regular do instrumento.
R: Concordo plenamente, e digo mais, o acompanhamento de um professor de qualidade é muito bemvindo.
Fonte:
Vecchia, Fabrício Dalla. Iniciação ao Trompete, Trompa, Trombone, Bombardino e Tuba: processos de ensino e aprendizagem dos fundamentos técnicos na aplicação do método Da Capo. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Bahia, 2008.
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No entanto, devo ressaltar que há polêmicas e controvérsias a respeito de vários temas na música, principalmente na questão embocadura, e todo instrumentista deve procurar sempre melhorar sua técnica buscando todos os recursos possíveis, e fazendo a seleção do que melhor lhe convier.
Grande abraço, Professor Ricardo Matosinhos.